Zé do Chalé

José Cândido dos Santos, o Zé do Chalé, era um artista sergipano descendente de índios Xocós da Ilha de São Pedro, município de Neópolis, às margens do Rio São Francisco. Ele nasceu em 1903 e faleceu em 2008 aos 105 anos. Zé do Chalé ganhou esse apelido por causa de seu trabalho como mestre de obras. Porque eu só fazia chalé de madeira ou de palha, cobria de telha ou de barro e então me apelidaram de Zé do Chalé, contava. Na juventude trabalhou ainda na construção das barcas de madeira. No mundo da arte Zé do Chalé entrou em uma idade em que muitos já não mais trabalham, 89 anos. Os últimos que lhe restavam de vida dedicou-os à arte da escultura e através dela ficou conhecido em todo o país.

Zé do Chalé. Foto: Celso Brandão©

Zé do Chalé começou construindo pequenos navios e cruzes, os quais eram colocados dentre de garrafas de vidro. Entretanto o que se viu depois foram trabalhos bem diferentes do que ele começou a realizar no inicio da década de 1990. Esse trabalho mais recente se dava em meio a estudos que exigia mais esmero na confecção de cada objeto. Muitos destes trabalhos eram inicialmente testados em pedaços de isopor ou papelão e somente depois testados na madeira. Maçaranduba, cedro, eucalipto, umburana de cheiro, pinho, mulungu, jaqueira eram a matéria-prima de seu trabalho. Seu talento só foi descoberto em 1999, quando o cineasta alagoano Celso Brandão, viajando por aldeias indígenas do seu estado, chega à morada de um Pagé Xocó e se depara com as obras de Zé do Chalé. Diante de tanta beleza, Celso convocou o artista, a antropóloga Lélia Frota e o filósofo catalão Eduardo Subinat para um encontro na ilha de São Pedro, domínio Xocó e lá se dispôs a divulgar este acervo precioso.

Zé do Chalé, título desconhecido, madeira. Acervo do Pavilhão das Culturas Brasileiras, São Paulo, SP.

Em geral as esculturas de Zé do Chalé são orientadas verticalmente como edificações, assumindo formas geométricas, às vezes abstratas. Uma de suas características marcantes é a forma cilíndrica com interior vazado, que o artista chamava de “troféu”. A religiosidade é outra característica presente em sua obra na forma de cruzes, coroa de espinhos, cálices, sagrado coração e formas que lembram igrejas. O profano também se faz presente através de esculturas antropomorfas, que ele chamava de “carrancas”. Esculpiu também a figura humana: índios hieráticos, desnudos, com tangas simétricas de penas e um chapéu ocidentalizado, muito semelhante ao que ele usava no dia-a-dia. Outros elementos, como pássaros, folhas de plantas, frutas, meia-lua, também podem ser encontrados em suas esculturas, utilizados de forma econômica com sentido simbólico, geralmente coroando suas peças. Em geral a obra de Zé do Chalé guarda referências do universo onde nasceu e habitou, convivem nela a herança ancestral Xocó e a modernidade da vida urbana.

Zé do Chalé, título desconhecido, madeira. Reprodução fotográfica Galeria Estação, São Paulo, SP. FOTO: João Liberato©

As obras de Seu Zé do Chalé estão espalhadas pelo mundo em museus, galerias de arte e coleções particulares. Importantes exposições foram e têm sido organizadas com a obra de Zé do Chalé, dentre elas: Zé do Chalé: o dono da flecha (Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, Rio de Janeiro, RJ, 2007) e “Troféus – Geografia simbólica de Zé do Chalé” (Museu Théo Brandão, Maceió, AL, 2012).

... Eu faço essas peças diferentes umas das outras, não é porque meu povo faz isto, mas é porque Deus quis assim. Vem na minha cabeça e eu dou um nome de taça ou troféu. A minha inspiração vem do cérebro. É Deus que me dá este dom para eu fazer estas coisas... (Zé do Chalé, 1903 - 2008).


Zé do Chalé, barco, madeira. Reprodução fotográfica autoria desconhecida.

Zé do Chalé, título desconhecido. Acervo do Museu Théo Brandão, Maceió, AL.

Convite da exposição Zé do Chalé: o dono da flecha, Centro de Folclore e Cultura Popular, Rio de Janeiro, RJ, 2007.

Convite da exposição Troféus - geografia simbólica de Zé do Chalé. Museu Théo Brandão, Maceió, AL, 2012.

Zé do Chalétítulo desconhecido, madeira. Reprodução fotográfica Galeria Estação, São Paulo, SP. FOTO: João Liberato©

Zé do Chalétítulo desconhecido, madeira. Reprodução fotográfica Galeria Estação, São Paulo, SP. FOTO: João Liberato©

Zé do Chalétítulo desconhecido, madeira. Reprodução fotográfica Galeria Estação, São Paulo, SP. FOTO: João Liberato©

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